* Zeno
Germano
Resumo: Este artigo pretende conceituar
introdutoriamente o método Algoritmo David Liberman (ADL) de análise do discurso
em sua perspectiva psicanalítica. Parte da origem dos trabalhos de David
Liberman, associando estilos de comunicação á teoria da libido de Freud, até os
desenvolvimentos posteriores propostos por David Maldavsky, construindo e
solidificando o método a partir dos conceitos de pulsões e defesas psíquicas.
Palavras-Chave: Método. Psicanálise.
Discurso.
Abstract: This introductory article seeks to conceptualize the David Liberman
Algorithm (DLA) method of discourse analysis in his psychoanalytic perspective.
Start from the orign of the work of David Liberman, involving communication
styles will libido theory of Freud by subsequent developments proposed by David
Maldavsky building and solidifying the method based on the concepts of drives
and psychic defenses.
Key-Words: Method. Psychoanalysis. Discourse.
O Método de Análise do discurso Algoritmo David Liberman (ADL)
se constitui como possibilidade de oferecer ao pesquisador os instrumentos para
compreender, segundo o pensamento psicanalítico, a dinâmica psíquica
inconsciente. Ou seja, pulsões e mecanismos de defesa dos sujeitos por meio da
linguagem verbal em seus relatos, frases e palavras constitui o interesse do
método.
Em Psicanálise as investigações clínicas têm sido usadas para
desenvolver hipóteses teóricas no estudo de condições psicopatológicas, para
fundamentar propostas de abordagens terapêuticas ou apenas para avaliar
resultados. Paralelamente sempre há polêmicas sobre questões metodológicas e
epistemológicas, como os ainda comuns questionamentos sobre ser ou não a
Psicanálise uma ciência.
Outro aspecto costumeiramente presente nos discursos
psicanalíticos, recai sobre as diferenças entre a corrente anglo-saxã de se
fazer psicanálise e a corrente francesa. A primeira recorre a instrumentos e
métodos para analisar as sessões, porém cada vez mais é uma corrente afastada da
metapsicologia freudiana e voltada para intervenções de adaptação do ego ao meio
ambiente. A segunda repele tais instrumentos e acredita apenas no que acontece
dentro da própria sessão analítica (as relações transferenciais) como meio de
análise e interpretação.
Preocupado em garantir a validade metodológica, principalmente
em seus objetivos de pesquisa qualitativa, o método oferece a manutenção da
teoria metapsicológica freudiana, sistematizando seu conteúdo de forma a não
esvair sua riqueza subjetiva e intersubjetiva garantindo a análise do singular
(como os estudos de caso único, por exemplo) mas também se organizando
quantitativamente por meio de instrumentos como grades específicas e uma análise
por meio de dicionários computadorizados. Configura-se assim enquanto método
essencialmente quantitativo-qualitativo.
O ADL inicialmente foi aplicado ás problemáticas de ordem
clínica, psicoterápicas, onde se preocupa basicamente com a dinâmica
inconsciente dos pacientes em análise e/ou com o desenvolvimento da análise a
partir da relação analista-paciente, enfatizando o sentido intersubjetivo do
trabalho analítico. Entretanto, nos últimos anos, o método está sendo aplicado
também a outros campos da cultura, como a análise de novelas, situações
políticas ou obras de arte.
Origens
Históricas.
Para o adequado entendimento do que é o método ADL, precisamos
nos remeter ás origens históricas deste. Aqui temos que falar do psicanalista
argentino David Liberman, que durante as décadas de 60 e 70 desenvolveu uma
série de estudos que culminaram nas condições teóricas para o advento do método
em questão.
Sobre Liberman escreveu Aronis (1995);
David Liberman se considerava alguém que colocava a
pesquisa em Psicanálise como o alvo de seus interesses. Inconformado coma lacuna
existente entre os conceitos teóricos com grandes níveis de abstração e o que
ocorria na prática clínica diária, mantendo distantes a metapsicologia, a
técnica e a teoria da técnica, propõe uma reformulação da psicanálise sobre a
base da evolução do diálogo psicanalítico, concedendo á sessão analítica um
papel central como método e objeto de indagação. (p.17)
Liberman (1970) estudou os estilos comunicativos dos sujeitos
falantes com um enfoque psicanalítico e basicamente defendia que cada paciente
apresentava estilos de comunicação onde haveria alguns estilos predominantes.
Estes estilos seriam indicativos da organização psicopatológica dominante no
psiquismo de cada paciente.
Liberman tinha ampla noção que o conceito de estilo envolvia um
valor intermediário entre a teoria e a clínica psicanalítica. Em um primeiro
momento esbarrou na compreensão de que não se remeteria a um paciente concreto,
pois este teria em sua dinâmica psíquica, vários estilos simultaneamente. Em um
segundo momento conectou o conceito de estilo a conceitos teóricos do campo
freudiano; a fixação pulsional e os mecanismos de defesa.
No desenvolvimento de seu trabalho, Liberman estabeleceu nexos
entre os estilos comunicativos, as estruturas clínicas e os pontos de fixação
libidinal descritos por Freud ao longo de sua vasta obra e por Karl Abraham no
livro Teoria Geral da Libido em 1927; fases oral primária e
secundária (O1 e O2), anal primária e secundária (A1 e A2), fálico uretral e
fálico genital ( F1 e F2).
Aronis (1995) escreve;
As denominações de “pessoa” demonstrativa, atemorizada
ou fugidia, lógica, de ação, depressiva, observadora-não participantes e
infantil exprimem em cada um destes tipos as características específicas de
comportamento na situação analítica, fatos que são determinados pelo ponto de
fixação da libido predominante (segundo Abraham) para o qual o paciente regressa
ao se estabelecer a transferência. ( p.17)
Liberman pensa que para construir uma teoria em psicanálise tem
que partir do fenômeno da transferência em seu conceito operacional. Entretanto
considera inadequado ampliar o termo transferência para qualquer tipo de
comportamento fora da sessão, considerando assim a sessão como único campo de
observação e experiência.
Escreve Liberman (1970/2009);
Según mi punto de vista (
y sé que no soy el único en nuestro medio que piensa así), para construir
teorías hay que partir de la transferencia. Ahora bien, para llegar a explicar
todo lo que comprendemos sobre transferencia en la práctica psicoanalítica, se
debe tomar como punto de partida todo lo que emana del conjunto de contantes y
variables que forman un contexto total que llamamos situación
analítica.
(…) Para lograr una
comprensión integral de los fenómenos transferenciales, de be considerárselos
como estructuras de comportamiento resultantes de las motivaciones inconscientes
que están operando en un momento dado y de factores provenientes del método
psicoanalítico (regla fundamental, horarios, honorarios, la posición decúbito,
la actividad inconsciente del terapeuta, etc.). (p.73)
Liberman escreve ainda que enfocando o problema desta maneira,
se deve tomar como material de observação o curso de todo o tratamento
psicanalítico, ou um conjunto de sessões ou uma sessão apenas, assim como
fragmentos de uma única sessão ou fragmentos de várias sessões. Em suma, a
pesquisa psicanalítica está atrelada ao que acontece na própria sessão entre
seus envolvidos, analista e analisando.
Liberman estudou
durante vinte anos a linguagem dos pacientes como expressão das fixações
pulsionais. Esta sua tentativa de reunir a teoria com as manifestações
parte de uma proposta dedutiva e neste sentido se diferencia de outras propostas
caracterizadas como meramente indutivas.
A maioria dos métodos sistemáticos de análise do discurso parte
de uma orientação indutiva e pragmática, motivo pelo qual não é fácil
estabelecer um caminho de nexo com a metapsicologia freudiana. Liberman não
abriu mão da metapsicologia.
Liberman recorreu aos instrumentos que possuía conceitualmente á
época, no campo lingüístico e semiótico, tanto para justificar quanto para
descrever sua categorização dos estilos. Também realizou estudos clínicos dos
discursos de vários pacientes. Neste sentido Maldavsky (2007) escreve;
Por un lado, apeló
a la descripción de Ruesch (1957) de los estilos de comunicación para presentar
su enfoque general, a las ideas de R.Jakobson (1960) sobre los factores y las
funciones del discurso para precisar qué rasgo el paciente enfatiza, a las de
N.Chomsky (1965) para formalizar el estudio sintáctico del discurso en el nivel
de la frase, al enfoque de Pitenger et
al.( 1960) para investigar los rasgos fonológicos de los pacientes, etc. Por
otro lado, recurrió a la perspectiva de la pragmática de la comunicación humana
(…) para destacar cómo el paciente usa su discurso en la sesión ante el
terapeuta. Liberman se esforzó por utilizar estos conceptos para avanzar en
desarrollo de la investigación clínica sistemática. (p.
26)
.
Como citado, Liberman foi
influenciado por autores como Ruesch (1957) e sua teoria geral de comunicação,
Jakobson (1960) e sua idéias sobre fatores e funções do discurso, além de
Chomsky (1965) que realizou estudos sintáticos do discurso a nível de frases e
Pittenger (1960) que abordou os aspectos fonológicos dos pacientes. Todos estes
autores foram importantes no campo da lingüística e da semiótica.
Sobre a influência de Ruesch no trabalho de Liberman, Aronis
(1995) escreve;"Quando pretere a classificação de Fenichel da
nomeclatura psicanalítica clássica, baseada nos enfoques histórico-genéticos,
pela de Ruesch, baseada nos fenômenos da comunicação, ele define a direção que
passará a dar á sua pesquisa" (p.17)
Assim, torna-se necessário construir uma lógica de observação de
cada sessão. A Semiótica forneceu a Liberman esta possibilidade quando este
escreve que o manejo dos sinais e mensagens do analisando se dá em três campos:
o campo sintático, o campo semântico e o campo pragmático.
Pacientes com perturbações na comunicação a nível sintático
seriam os histéricos, fóbicos e obsessivos compulsivos. Para Liberman
(1970/2009);
Estos analizandos, a los que yo denomino pacientes com
perturbaciones a predomínio sintactico, tienen, puesto que se comprometen com lo
que dicen, dificultades para realizar y mantener emisiones verbales com um grado
óptimo de gramaticalidad.
En estos pacientes
notamos interrupciones, câmbios de plan, establecimiento de falas conexiones y,
por sobre todas las cosas, lagunas em las construcciones verbales y también en
la forma com las emiten. (p.564)
São então, pacientes descritos como apresentando discursos de
estilo narrativo, dramático ou de impacto estético. Os pacientes dentro destes
estilos de comunicação, são os mais acessíveis á abordagem clássica da
psicanálise, pois se submetem melhor a regra fundamental da associação
livre.
Os pacientes de comunicação pragmática são descritos pro
Liberman como sendo os psicopatas, os de caráter perverso ou ainda os
psicóticos, que apresentam uma dificuldade considerada a se submeterem a regra
psicanalítica, apresentando ainda interesses distintos ao de se tratar ou podem
buscar manipular a relação analítica.
Já os de predomínio semântico são pacientes que apresentam
discursos desconectados ao mesmo tempo em que parecem estar associando
adequadamente. Tal situação costuma gerar confusão no próprio analista que ao
crer que está psicanalisando este paciente, percebe que não está fazendo nada.
São pessoas esquizóides, ciclotímicas,
psicossomáticos e hipocondríacos.
Em
verdade Liberman não chegou a efetivar um conjunto de
instrumentos concretos para investigação sistemática. Do ponto de vista
metodológico, seu principal legado consistiu em colocar as bases para a
operacionalização de dois conceitos centrais em psicanálise; fixações pulsionais
e mecanismos de defesa. Coube a Maldavsky, de posse destas bases, construir o
método.
Trabalhando junto com Liberman, Maldavsky desenvolveu mais ainda
os estudos iniciais que articulavam os estilos comunicativos aos aspectos
psíquicos. Maldavsky iniciou os estudos de análise de frases, formalizou a
sistematização do ideal do ego como
uma expressão de cada erogeneidade e construiu maiores precisões ás descrições
de cada estilo.
Aspectos gerais do
Método ADL.
O Algoritmo David Liberman (ADL) foi criado e depois
desenvolvido para investigar o discurso a partir da perspectiva psicanalítica
freudiana e tem como objetivo detectar as pulsões e defesas expressas por meio
da linguagem. Em outras palavras, do que fala e como fala um sujeito, é a
preocupação do método, assim como é essência da própria psicanálise. Os níveis
de linguagem aparecem para análise como palavra, frase e relato.
As pulsões que podemos trabalhar no método são as mesmas que
Freud em sua obra inicialmente postulou quanto ao desenvolvimento da libido,
porém acrescida de uma a mais; São elas: Pulsão Oral Primária (O1), Pulsão
Sádico Oral Secundária (O2), Pulsão Sádico Anal Primária (A1), Pulsão Sádico
Anal Secundária (A2), Pulsão Fálico Uretral (F1) e Fálico Genital ( F2).
A que devemos acrecer é chamada de
Libido Intra-Somática (LI), que de acordo com Maldavsky (2004); “...ha sido
mencionada por Freud (1926) solo de paso, al afirmar que en el primer momento de
la vida posnatal los órganos internos (sobre todo corazón y pulmones ) reciben
una fuerte sobreinvestidura libidinal.” (p.15).
Fixações da libido nesta fase são os indicativos psíquicos de
pacientes psicossomáticos e de dependentes químicos, que trazem em suas
dinâmicas psíquicas a dificuldade de associação livre verbal. Ora, a libido
intra-somática é um estágio anterior a qualquer construção de palavra na
criança, sendo então anterior à própria fase oral.
Quanto aos mecanismos de defesa psíquica, o método distingue
algumas defesas que são centrais: a repressão, o desmentido, desestimação da
realidade e da instância paterna, desestimação do afeto, a sublimação e a
criatividade. Além destas defesas centrais, adiciona outro grupo denominado de
defesas complementarias; entre elas a identificação, a projeção, a anulação,
negação, dentre outras.
Escreve Maldavsky
(2007);
Los instrumentos
para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se
expressa em escenas.
Las mismas pueden ser narradas (y en consecuencias las
investigamos con la grilla de análisis del relato) o desplegadas al hablar, en
la relación con el analista ( y en consecuencia las investigamos con la grilla
de análisis de los actos del habla, etc.).En cuanto a las defensas, las
consideramos, como Freud (1915/2000), destinos o vicisitudes de las pulsiones.
Por ello, la investigacíon de la defensa es posterior a la detección de la
fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena
permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante en dicha escena
permite detectar la defensa. (p.31)
A compreensão dos aspectos abordados pelo ADL, significa
considerar que ao invés de pensarmos os sujeitos analisados como estruturas
clínicas unitárias fixas (seja meramente neurótico, psicótico ou perverso, para
falarmos em termos lacanianos), devemos considerá-los como um conjunto de
erotismos e defesas psíquicas que em suas dinâmicas podem apresentar mudanças
nestes estados e mesmo apresentar a coexistência de manifestações psíquicas
inicialmente diferentes.
Sobre este ponto Maldavsky ( 2004) escreve:
A veces nos encontramos com uma contradiccíon entre dos
análisis de las frases: uma misma defensa puede aparecer, em um momento, como
normal y em outro, como patógena. También puede
ocurrir que uma misma
defensa patógena aparezca por momentos como exitosa y em otras ocasiones, como
fracasada. En realidad, no se trata necesariamente de un conflicto en el cual
debamos optar por una o por otra alternativa. Puede ocurrir que el análisis
detecte variaciones en la defensa, que pasa de normal a patógena o viceversa, o
variaciones en la defensa patógena, que pasa de exitosa a fracasada o viceversa.
(p.33)
Com o exposto até aqui, vamos afirmar que o
método ADL se interessa por estudar as cenas, tanto as relatadas por um
paciente, por exemplo, como as atuadas
na sessão ante o analista e também as posições daquele que fala nestas
cenas. O método então pretende detectar as pulsões e defesas em jogo por meio
das variações que podem ocorrer em sessões diferentes ou em fragmentos de uma
sessão.
Neste sentido é importante frisar que o método
pode estudar a relação intersubjetiva proveniente do trabalho entre analista e
paciente quando se tratar de clínica. Estudamos não apenas o discurso dos
pacientes como também o dos próprios terapeutas através de uma análise de suas
intervenções no processo analítico. Neste sentido temos que recorrer á gravação
das sessões analíticas, lembrando que deverá ter o consentimento do
paciente.
Maldavsky (2004) ressalta que há tipos de
análise da erogeneidade assim como instrumentos diferenciais; Quando se trabalha
com relações extratransferenciais, o instrumento adequado é a grade de relatos.
Quando se trabalha com relações transferenciais o instrumento deve ser a grade
de frases. Por fim, se trabalhamos a valoração crítica dos resultados das
análises de relatos e frases (redes de palavras), passamos aos programas de
computador.
O método
prevê as grades e o programa de computador que se constitui em um dicionário
computadorizado que por meio de uma rede de palavra as correlaciona com as
pulsões e as defesas do ego. Tanto um quanto outros são as ferramentas que
permitem analisar o material verbalizado.
O uso do dicionário computadorizado apresenta
algumas dificuldades que não passam despercebidas por Maldavsky (2004);
Pese a su evidente utilidad em la
investigacíon, el desarrollo de tales diccionarios se topa com diversas
dificultades. El primer problema reside en el criterio para agrupar las
palavras. La ubicación de las palabras en categorías parece dificultar-se además
por el echo de que un mismo término suele tener varias significaciones, a veces
contradictorias. Así, pues la creación de un diccionario suele presentar al
menos un doble problema: cómo definir las categorías para agrupar las palabras,
cómo resolver la cuestión de la polivalencia semántica de cada término.
(p.69)
Maldavsky aponta que muitas das dificuldades do
dicionário computadorizado acontecem pela ampla possibilidade das palavras terem
diferentes valores dependendo do contexto em que se use e ainda a questão de
significados a partir de metáforas, ambigüidades e outros recursos retóricos.
Neste sentido a própria questão de utilizar o programa computadorizado em
sujeitos que falam português e não espanhol ou castelhano, faz com que consideremos a necessidade de tradução e
devidas contextualizações das redes de palavras originalmente criadas para a
análise.
Com os estudos de relatos de pacientes podemos
com o método detectar as fixações pulsionais e investigar as características de
certas estruturas psicopatológicas. É o caso das histerias de conversão e demais
características histéricas onde predomina a pulsão de tipo F1 ( Fálico genital),
em histerias de angústia e fobias onde o predomínio é de F2 ( Fálico uretral ),
neurose e caracteriopatias obsessivas,
com tendência pulsional Sádico anal
secundário ( A2), em caracteriopatias perversas e transgressoras além de
paranóicas, temos o erotismo sádico anal primário ( A1), em sujeitos depressivos
ou psicóticos maníacos depressivos temos o erotismo oral secundário (O2),
esquizóides e esquizofrênicos em erotismo oral primário (O1) e por fim, sujeitos
adictos, psicossomáticos e traumatizados remetem ao erotismo da libido
intrasomática ( LI).
Os relatos contêm basicamente; um estado inicial
de equilíbrio que é alterado por uma primeira transformação que corresponde a um
despertar de desejo latente. Logo ocorre uma segunda transformação que é
inerente a tentativa de consumação e uma terceira transformação que inclui as
conseqüências da terceira tentativa até o estado final. Este trâmite constitui a
matriz das seqüências narrativas; ou seja, dois estados, um inicial e outro
final e no mínimo três transformações.
Importante frisar que; Como os relatos permitem
realizar uma análise dos fenômenos extra-transferenciais, se consegue por meio
deles uma compreensão do contexto geral da dinâmica psíquica do sujeito enquanto
que, com a análise de frases, há um escopo transferencial enfocando o que o
sujeito fala em sessão na relação com o terapeuta. A compreensão é mais
específica, podendo também remeter á figura do terapeuta e sua
subjetividade.
Neste ponto, o método valoriza a análise por
meio das estruturas-frase como expressão do erotismo; Maldavsky escreve
(2004,p.99) “... nuestro interese se centra no en las historias narradas por el
paciente, sino en las escenas efectivamete desplegadas durante la sesíon,
durante el intercambio discursivo.”
Para investigar as cenas especificamente atuadas
ao falar, afirmamos que é fundamental e necessário prestar atenção ás
estruturas-frase. Aqui, interessa ao pesquisador uma frase que expresse a
subjetividade de quem a profere: se objeta, reflexiona, exagera, dramatiza, se
interrompe a frase por impaciência, se expressa emoções, etc.
Ao mesmo tempo, é reconhecido que falta uma
tradição psicanalítica da análise de frases, o que se configura em certo
prejuízo para a sistematização, que agora tenta ser sanada por meio da
construção conceitual das estruturas-frases no Método ADL.
A análise das frases torna possível inferir e
refinar a investigação da transferência e da contratransferência em uma sessão
com um sujeito falante, tornando-se um caminho analítico diferente da análise
dos relatos, que como já mencionamos trabalha com inferências
extra-transferenciais.
Seja qual for o interesse do pesquisador, a
relação transferencial ou a relação extra-transferencial, em ambos os terrenos o
método trabalhará com a investigação das fixações pulsionais e os estados
psíquicos de defesa. Escreve
Maldavsky (2007);
Los instrumentos para la
investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expresa
em escenas.
Las mismas pueden ser narradas ( y en consecuencia las
investigamos con la grilla de análisis del relato) o desplegadas al hablar, en
la relación con el analista( y en consecuencia investigamos con la grilla de
actos de habla, etc.).
(…) la investigacíon de la defensa
es posterior a la detección de la
fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena
permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante den dicha escena
permite detectar la defensa. (p. 31)
Além do estudo das pulsões presentes nos discursos, o ADL se
interessa também pela compreensão de como funcionam as defesas psíquicas
inconscientes presentes no sujeitos. As defesas são então compreendidas como
destinos da pulsão e Maldavsky (2001) enfatiza que não podemos separar a
compreensão dos mecanismos de defesa das manifestações pulsionais;
El análisis de la
defensa es inseparable de la consideración de la erogeneidad a la cual aquella
se enlaza, así que, en el orden global de los procedimientos metodológicos, el
examen de las manifestaciones para discernir cuál és la pulsión sexual eficaz es
prioritario, y el de la defensa corresponde a un paso ulterior. Entre las
defensas, sólo consideramos aquí las dominantes: represión, desmentida,
desestimación de la realidad y de la instancia paterna, desestimación del
afecto. Todas ellas pueden ser normales
(funcionales) o patógenas. (p. 20)
A partir da Psicanálise, o método expressa que entre os tipos de
defesa psíquica, a repressão se entrelaça com as pulsões sádico-anal secundária,
fálico-uretral e fálico-genital. A desmentida e a desestimação da realidade e da
instância paterna se entrelaça com a pulsão oral-primária, sádico
oral-secundária e sádico-oral primária e a libido intra-somática está
relacionada a uma desestimação de afeto.
Assim, a investigação clínica em psicanálise tem na questão dos
mecanismos de defesa um papel central. Maldavsky (2001, p.206) escreve que
quando procuramos propor mudanças psíquicas em um paciente, apontamos para as
mudanças oriundas das transformações ocorridas com as defesas.
Maldavsky (2001, p.221) salienta que para se analisar as
defesas, deve-se escutar no discurso do sujeito manifestações como um
aumentativo, um diminutivo, um corte na oração, um grito, um sussurro, um
lamento ou uma reprovação. Tais formas de expressão verbal são alguns
indicativos dos tipos de defesas psíquicas presentes no sujeito.
Marco Teórico:
Psicanálise e Subjetividade.
Para uma adequada compreensão do ADL, torna-se fundamental a
leitura sistemática e aprofundada da Psicanálise Freudiana, marco teórico do
método que fundamenta todo o arcabouço conceitual utilizado na absorção e
aplicação do método em contextos discursivos.
Em Pulsão e seus destinos
(1914), Freud estabelece o conceito de pulsão, apresenta as pulsões do ego
ou autopreservativas e as pulsões sexuais como manifestações essenciais da vida
humana e enfatiza que existem vicissitudes pelas quais as pulsões passam ao
longo do desenvolvimento humano. Estas são as defesas psíquicas.
A construção do conceito de pulsão em verdade, começa a ser
delineado em Três ensaios para uma teoria
da sexualidade (1905). Nesta obra aparece a pulsão sendo compreendida a
partir da criança e seu desenvolvimento por fases, de recém nascido a
adolescência. Nesta mesma obra já aparecem também conceitos de mecanismos de
defesa como a formação reativa e a sublimação.
O Ego e o Id (1923) é uma obra freudiana
que traça as diferenças entre consciência e o sentido de inconsciente que
organiza o pensamento psicanalítico para a compreensão do homem, assim como
estabelece a famosa 2º tópica; Id, Ego e Superego, apresentando a compreensão de
que o ego e o superego também são em grande parte inconscientes. Nesta obra,
assim como em O inconsciente (1914),
é possível percebermos a idéia de que o homem é guiado por manifestações
pulsionais que lhe chegam de forma indireta e que não temos acesso senão por
meio de derivados mentais, presentes por meio basicamente da linguagem.
A predominância do inconsciente por meio da linguagem já surge
em Freud na obra Psicopatologia da vida
cotidiana (1901), quando leva em consideração os lapsos de fala,
esquecimento de nomes e troca de palavras como tendo em si um significado
subjacente ao discurso manifesto consciente e em O chiste e sua relação com o inconsciente
(1905) quando estuda o aspecto cômico nos discursos como manifestação do
inconsciente.
A preocupação que norteia o método ADL converge diretamente ao
estudo do subjetivo a partir da compreensão freudiana.; Kazez (2008) escreve
sobre a preocupação em conceituarmos adequadamente a subjetividade:
Comencemos entonces
a definir a qué nos referimos cuando hablamos del origen de la subjectividad.
Este problema puede ser considerado desde la perspectiva freudiana ao menos
desde tres concepciones (Maldavsky, 1997): la de la oposición
actividad-pasividad (1915c), la de la identificación primaria (Freud, 1921c) y
la de la consciencia inicial (1950a en Projecto de una Psicología para neurólogos), que intentan explicar
cómo se constituye la subjetividad. (p.02)
Kazez (2008) cita obras de Freud como Pulsões e seus Destinos e Psicologia das massas e análise do eu
para especificar que nestes trabalhos estão estabelecidos, respectivamente, os
conceitos de pulsão e a oposição atividade-passividade (os chamados pares de
opostos) e também a conceituação da identificação primária, constructos
essenciais para a construção da subjetividade.
Escreve Kazez (2008);
Em síntesis, los procesos subjetivos
se originan en el empuje pulsional, que en el encuentro con la subjetividad
ajena, culmina en el desarrollo de una cualidad en la conciencia de donde
derivan los afectos y el universo representacional. Los procesos subjetivos
tienen su punto de partida en el enlace entre la libido y las percepciones, y
comienzan a desarrollarse con el surgimiento de la conciencia, que solo puede
dar-se en el encuentro con semejantes con una postura empática Los afectos
representan una particular ligadura del incipiente sujeto con sus propios
procesos pulsionales. (p. 132)
A autora também salienta, no mesmo trabalho, que a linguagem não
é a única forma de expressão dos processos subjetivos nos sujeitos e que a
percepção, a motricidade e a especialidade são também modos de expressão das
pulsões. A diferença está no fato de que como a fala aparece na maioria das
pessoas; “ (...) permite acceder de um modo más preciso ao estudio de los
recursos implementados para el procesamiento pulsional y de la posibilidad individual de ajuste de
los imperativos de la realidad y de la instancia critico-valorativa” (p.133)
Sobre a noção de subjetividade, Maldavsky (2007) escreve;
Em efecto, la
noción de subjetividad contiene además un segundo rasgo, consistente en el
desarrollo de una función de la conciencia originaria, la cualificación. Los
contenidos de la conciencia originaria son, para Freud (1950a), las impresiones
sensoriales y los afectos, entre los cuales estos segundos son los primordiales
y dotan de significatividad a las primeras. (p.17)
Maldavsky (2007) conclui também que a capacidade de sentir os
afetos não está presente em todos os sujeitos o que significa dizer que nestes
casos há um prejuízo da subjetividade;
La capacidad para sentir los estados afectivos, su
matriz, es uma conquista que se logra tempranamente, em la medida em que ciertas
disposiciones yoicas se encuentran com um ambiente empático. El afecto es uma
forma de cualificar, de hacer concientes los procesos pulsionales y al mismo
tiempo, em la medida em que es consecuencia de la empatía de los progenitores,
también es un forma de estabelecer un nexo con la vitalidad de los procesos
pulsionales de estos: pero existen individuos en los cuales esta conquista
psíquica temprana no se desarolló o se arruinó luego, de manera transitoria o
más duradera, y en tales ocasiones la subjetividad queda interferida, al menos
parcialmente, y en su lugar suelen aparecer alteraciones somáticas.
(p.17-18)
Considerações Finais
O método de análise do discurso Algoritmo David
Libermann, ADL, apresentou-se para nós como a possibilidade mais eficaz e de
maior validade para a pesquisa psicanalítica, principalmente por interpretar os
discursos a partir da metapsicologia freudiana, pensando as manifestações
pulsionais e seus destinos enquanto mecanismos de defesa psíquica.
A interpretação metapsicológica por meio do ADL
pode assim, levar a uma compreensão das dinâmicas psíquicas que se apresentam
nas falas dos sujeitos, contribuindo não apenas á clínica psicoterápica e
psicanalítica, mas também a outras situações em que o discurso se faça presente,
ou seja, em cada campo de constituição do humano e em sua relação com o
outro.
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