sexta-feira, 15 de junho de 2012

ALÉM DOS LAUDOS PERICIAIS


ALÉM DOS LAUDOS PERICIAIS

(REFLEXÕES SOBRE UMA PSICOLOGIA PSICANALÍTICA NO ÂMBITO JURÍDICO)



*Zeno Germano




A inserção do Psicólogo no âmbito jurídico ainda é um processo em construção. De um lado o cargo precisa ser ampliado, ofertado em maior número por exemplo, nos Tribunais de Justiça de alguns Estados, onde a figura do Assistente Social é sempre presente e o Psicólogo fica, aparentemente, em segundo plano. Por outro lado, questões que envolvem aspectos legais (adoção, separação, guarda etc.) costumam freqüentemente demandar a intervenção do Psicólogo, seja em instituições públicas ou mesmo nos consultórios particulares.

Dentro deste processo de construção, já se encontram profissionais da Psicologia envoltos em reflexões sobre suas práticas e as suas relações com outros profissionais e os juízes. No que diz respeito a outros profissionais, já se percebe nitidamente a necessidade do compartilhar conhecimentos e integrar discursos no que se refere às “coisas” com que lidam no âmbito jurídico, enquanto que ao serviço de Psicologia resta cada vez mais freqüente um questionamento das possibilidades, não apenas de inserção mas também de atuação deste profissional. Nesta perspectiva, a construção de uma prática psicológica a partir da Psicanálise é cada vez mais possível.

Se formos focar a nossa atuação, o que tem caracterizado o Psicólogo, via de regra, junto ao jurídico? O Psicólogo é convocado pelo juiz para o exercício de uma perícia, ou seja, uma função claramente técnica que precisa da aplicação de entrevistas e testes psicológicos, ferramenta aparentemente sine qua non nesta perspectiva.

O uso de testes não deve, entretanto, ser contestado por si mesmo. Não há dúvida que são o grande instrumental da intervenção psicológica. O que ainda pode ser atacado pelos próprios juristas ou mesmo outros profissionais é, antes, o que costuma ser trabalhado pelo Psicólogo: a subjetividade. Tal imaterialidade, que por si só pode resultar em várias possibilidades de interpretação, coloca a Psicologia sempre em posição de ser questionada. Que validade haveria para uma função de perícia na tomada de decisão dos juízes?

O que interessa aqui é, na verdade, a posição técnica no sentido do significado que isto representa quando se percebe que muitos psicólogos têm estado apenas no fomento do lugar do perito.Assim,correm o risco de se tornarem meros aplicadores de testes e carimbadores de laudos que ainda pretendem dar conta total da complexidade dos sujeitos.

Não é o uso de testes em si o objeto de contestação. Questionamos sim, o risco de aniquilarmos o sujeito e de nos prendermos apenas em uma função tecnocrata. Refletir o uso e aplicação dos testes psicológicos significa não apenas pensar o risco da tecnocracia no espaço do jurídico, mas antes, em qualquer espaço onde a Psicologia esteja presente.

Se o momento da nossa profissão é o de rumar a uma revisão de nosso alcance social separando-se de um modelo médico ortodoxo e atuando de forma a mostrar nossa importância para a sociedade, parece coerente que façamos um movimento semelhante no que diz respeito ás atividades junto ao jurídico.

Tal aspecto pode proporcionar a hipótese de que não possa faltar, de um lado, a consciência política que nos torne críticos quanto aos fenômenos sócio-econômicos que são relevantes às dinâmicas individuais ou grupais (familiares), e de outro lado, a importância de um olhar e uma escuta clínica, que possa ir além do fenômeno e abarque, principalmente, uma dinâmica de funcionamento emocional do sujeito que nos procura.

O que basicamente nos diferencia de outros agentes sociais que trabalham o humano? É a nossa escuta do “diferente.” Nosso olhar sobre o que não se vê normalmente. Isto é que deverá nos credenciar para nossas tomadas de decisões e não apenas o resultado de aplicação psicométrica e conseqüente elaboração de laudos.

Se pegarmos a questão dos laudos como instrumentos de poder (que são), precisamos então de maiores cuidados. O que se têm escrito nestes documentos? O que nós, psicólogos estamos dizendo? Como é isso de um “saber” fechado sobre alguém? Não podemos ser levados pela ingenuidade de pensarmos que tais questionamentos não cabem mais.

A relação de poder oriunda da atuação psicológica ainda se faz presente no modus operandi de alguns profissionais da área. Relação esta que violenta (para não dizer que mata) a possibilidade de se escutar o sujeito que atendemos e torna o Psicólogo obtuso quanto a sua atuação.

Abrir mão de uma posição de poder para que um sujeito possa advir, eis uma questão que se coloca a nós. O advento desse sujeito, traz para junto da intervenção no “mundo jus”, a escuta que deve permear a clínica. Em outras palavras, o psicólogo jurídico deve ser clínico também. E não apenas por aplicar testes, mas sim, e fundamentalmente, ter uma escuta da dinâmica do sujeito, de como este funciona.

Tal perspectiva deve trazer à tona novas reflexões; por exemplo, que essa escuta clínica não deve ser confundida com uma psicoterapia, sistematicamente falando, mas que bem conduzida, propiciará a quem nos procura, um efeito da ordem do terapêutico.

E quanto às perguntas objetivas que os juízes demandam aos psicólogos? Não requerem respostas objetivas? Talvez, a questão maior aqui seja que precisamos nos lembrar constantemente que não temos como “fechar” o comportamento de alguém para agradarmos aqueles que nos inquerem.

Ser a objetividade passar apenas por um enquadramento do sujeito, nossa posição deverá ser a de não objetividade. Mas se pensarmos que a objetividade pode passar também pelo uso de linguagem clara sobre as vicissitudes do movimento psíquico de cada um e propondo sempre que possível um acompanhamento sistemático de cada caso, estaremos eticamente conectados às peculiaridades de nossa atuação. Temos condição de sustentar isto?

Juntamente com uma perspectiva clinica de escuta da psicodinâmica dos sujeitos e de reconhecimento do contexto social e histórico em que inserem aqueles que chegam até nós,muitos psicólogos já estão provando que a atuação no espaço jurídico pode extrapolar supostos limites.

O Hospital Geral Penitenciário do Rio de Janeiro, por meio do serviço de Psicologia, realiza debates com os presos sobre as leituras que estes realizam,depois que houve a implantação de uma biblioteca.O trabalho não visa interpretações intelectuais dos textos,mas sim,os significados emocionais qu passam a ter para os presidiários.

Outro exemplo de novas formas de intervenção é o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário.Idealizado pela psicóloga Fernanda Otoni,o trabalho já existe há cinco anos promovendo a inserção social de condenados criminais portadores de sofrimento mental.

Evidentemente,tais ações demandam apoio institucional e político para que aconteçam.Mas é possível.Façamos projetos de novas intervenções.Levemos ás instituições,governamentais ou não,e teremos chances de concretizá-los.

Uma Psicologia que se pretenda de alguma forma, subversiva em relação ao que se espera dela, ou seja, um conhecimento que enquadra o sujeito, é uma Psicologia que se questiona na sua função social.

Mas resta também uma pergunta;

Essa Psicologia subversiva, que não mata o sujeito e suspende o juízo (psicanaliticamente falando) pode dialogar com domínio jurídico? Isto exigiria uma disponibilidade interna não apenas dos psicólogos, mas também daqueles que tem como tarefa dizer o Direito.





*Psicólogo Tribunal de Justiça RO. Professor ULBRA. Psicoterapeuta psicanalítico.



Contato: zeno.neto@ulbra.edu.br


quinta-feira, 14 de junho de 2012

ALGORÍTMO DAVID LIBERMAN (ADL) COMO MÉTODO DE PESQUISA PSICANALÍTICA EM ANÁLISE DO DISCURSO.

ALGORÍTMO DAVID LIBERMAN (ADL) COMO MÉTODO DE PESQUISA PSICANALÍTICA EM ANÁLISE DO DISCURSO.


* Zeno Germano
Resumo: Este artigo pretende conceituar introdutoriamente o método Algoritmo David Liberman (ADL) de análise do discurso em sua perspectiva psicanalítica. Parte da origem dos trabalhos de David Liberman, associando estilos de comunicação á teoria da libido de Freud, até os desenvolvimentos posteriores propostos por David Maldavsky, construindo e solidificando o método a partir dos conceitos de pulsões e defesas psíquicas.
Palavras-Chave: Método. Psicanálise. Discurso.
Abstract: This introductory article seeks to conceptualize the David Liberman Algorithm (DLA) method of discourse analysis in his psychoanalytic perspective. Start from the orign of the work of David Liberman, involving communication styles will libido theory of Freud by subsequent developments proposed by David Maldavsky building and solidifying the method based on the concepts of drives and psychic defenses.
Key-Words: Method. Psychoanalysis. Discourse.
O Método de Análise do discurso Algoritmo David Liberman (ADL) se constitui como possibilidade de oferecer ao pesquisador os instrumentos para compreender, segundo o pensamento psicanalítico, a dinâmica psíquica inconsciente. Ou seja, pulsões e mecanismos de defesa dos sujeitos por meio da linguagem verbal em seus relatos, frases e palavras constitui o interesse do método.
Em Psicanálise as investigações clínicas têm sido usadas para desenvolver hipóteses teóricas no estudo de condições psicopatológicas, para fundamentar propostas de abordagens terapêuticas ou apenas para avaliar resultados. Paralelamente sempre há polêmicas sobre questões metodológicas e epistemológicas, como os ainda comuns questionamentos sobre ser ou não a Psicanálise uma ciência.
Outro aspecto costumeiramente presente nos discursos psicanalíticos, recai sobre as diferenças entre a corrente anglo-saxã de se fazer psicanálise e a corrente francesa. A primeira recorre a instrumentos e métodos para analisar as sessões, porém cada vez mais é uma corrente afastada da metapsicologia freudiana e voltada para intervenções de adaptação do ego ao meio ambiente. A segunda repele tais instrumentos e acredita apenas no que acontece dentro da própria sessão analítica (as relações transferenciais) como meio de análise e interpretação.
Preocupado em garantir a validade metodológica, principalmente em seus objetivos de pesquisa qualitativa, o método oferece a manutenção da teoria metapsicológica freudiana, sistematizando seu conteúdo de forma a não esvair sua riqueza subjetiva e intersubjetiva garantindo a análise do singular (como os estudos de caso único, por exemplo) mas também se organizando quantitativamente por meio de instrumentos como grades específicas e uma análise por meio de dicionários computadorizados. Configura-se assim enquanto método essencialmente quantitativo-qualitativo.
O ADL inicialmente foi aplicado ás problemáticas de ordem clínica, psicoterápicas, onde se preocupa basicamente com a dinâmica inconsciente dos pacientes em análise e/ou com o desenvolvimento da análise a partir da relação analista-paciente, enfatizando o sentido intersubjetivo do trabalho analítico. Entretanto, nos últimos anos, o método está sendo aplicado também a outros campos da cultura, como a análise de novelas, situações políticas ou obras de arte.
Origens Históricas.
Para o adequado entendimento do que é o método ADL, precisamos nos remeter ás origens históricas deste. Aqui temos que falar do psicanalista argentino David Liberman, que durante as décadas de 60 e 70 desenvolveu uma série de estudos que culminaram nas condições teóricas para o advento do método em questão.
Sobre Liberman escreveu Aronis (1995);
David Liberman se considerava alguém que colocava a pesquisa em Psicanálise como o alvo de seus interesses. Inconformado coma lacuna existente entre os conceitos teóricos com grandes níveis de abstração e o que ocorria na prática clínica diária, mantendo distantes a metapsicologia, a técnica e a teoria da técnica, propõe uma reformulação da psicanálise sobre a base da evolução do diálogo psicanalítico, concedendo á sessão analítica um papel central como método e objeto de indagação. (p.17)
Liberman (1970) estudou os estilos comunicativos dos sujeitos falantes com um enfoque psicanalítico e basicamente defendia que cada paciente apresentava estilos de comunicação onde haveria alguns estilos predominantes. Estes estilos seriam indicativos da organização psicopatológica dominante no psiquismo de cada paciente.
Liberman tinha ampla noção que o conceito de estilo envolvia um valor intermediário entre a teoria e a clínica psicanalítica. Em um primeiro momento esbarrou na compreensão de que não se remeteria a um paciente concreto, pois este teria em sua dinâmica psíquica, vários estilos simultaneamente. Em um segundo momento conectou o conceito de estilo a conceitos teóricos do campo freudiano; a fixação pulsional e os mecanismos de defesa.
No desenvolvimento de seu trabalho, Liberman estabeleceu nexos entre os estilos comunicativos, as estruturas clínicas e os pontos de fixação libidinal descritos por Freud ao longo de sua vasta obra e por Karl Abraham no livro Teoria Geral da Libido em 1927; fases oral primária e secundária (O1 e O2), anal primária e secundária (A1 e A2), fálico uretral e fálico genital ( F1 e F2).
Aronis (1995) escreve;
As denominações de “pessoa” demonstrativa, atemorizada ou fugidia, lógica, de ação, depressiva, observadora-não participantes e infantil exprimem em cada um destes tipos as características específicas de comportamento na situação analítica, fatos que são determinados pelo ponto de fixação da libido predominante (segundo Abraham) para o qual o paciente regressa ao se estabelecer a transferência. ( p.17)
Liberman pensa que para construir uma teoria em psicanálise tem que partir do fenômeno da transferência em seu conceito operacional. Entretanto considera inadequado ampliar o termo transferência para qualquer tipo de comportamento fora da sessão, considerando assim a sessão como único campo de observação e experiência.
Escreve Liberman (1970/2009);
Según mi punto de vista ( y sé que no soy el único en nuestro medio que piensa así), para construir teorías hay que partir de la transferencia. Ahora bien, para llegar a explicar todo lo que comprendemos sobre transferencia en la práctica psicoanalítica, se debe tomar como punto de partida todo lo que emana del conjunto de contantes y variables que forman un contexto total que llamamos situación analítica.
(…) Para lograr una comprensión integral de los fenómenos transferenciales, de be considerárselos como estructuras de comportamiento resultantes de las motivaciones inconscientes que están operando en un momento dado y de factores provenientes del método psicoanalítico (regla fundamental, horarios, honorarios, la posición decúbito, la actividad inconsciente del terapeuta, etc.). (p.73)
Liberman escreve ainda que enfocando o problema desta maneira, se deve tomar como material de observação o curso de todo o tratamento psicanalítico, ou um conjunto de sessões ou uma sessão apenas, assim como fragmentos de uma única sessão ou fragmentos de várias sessões. Em suma, a pesquisa psicanalítica está atrelada ao que acontece na própria sessão entre seus envolvidos, analista e analisando.
Liberman estudou durante vinte anos a linguagem dos pacientes como expressão das fixações pulsionais. Esta sua tentativa de reunir a teoria com as manifestações parte de uma proposta dedutiva e neste sentido se diferencia de outras propostas caracterizadas como meramente indutivas.
A maioria dos métodos sistemáticos de análise do discurso parte de uma orientação indutiva e pragmática, motivo pelo qual não é fácil estabelecer um caminho de nexo com a metapsicologia freudiana. Liberman não abriu mão da metapsicologia.
Liberman recorreu aos instrumentos que possuía conceitualmente á época, no campo lingüístico e semiótico, tanto para justificar quanto para descrever sua categorização dos estilos. Também realizou estudos clínicos dos discursos de vários pacientes. Neste sentido Maldavsky (2007) escreve;
Por un lado, apeló a la descripción de Ruesch (1957) de los estilos de comunicación para presentar su enfoque general, a las ideas de R.Jakobson (1960) sobre los factores y las funciones del discurso para precisar qué rasgo el paciente enfatiza, a las de N.Chomsky (1965) para formalizar el estudio sintáctico del discurso en el nivel de la frase, al enfoque de Pitenger et al.( 1960) para investigar los rasgos fonológicos de los pacientes, etc. Por otro lado, recurrió a la perspectiva de la pragmática de la comunicación humana (…) para destacar cómo el paciente usa su discurso en la sesión ante el terapeuta. Liberman se esforzó por utilizar estos conceptos para avanzar en desarrollo de la investigación clínica sistemática. (p. 26)
.
Como citado, Liberman foi influenciado por autores como Ruesch (1957) e sua teoria geral de comunicação, Jakobson (1960) e sua idéias sobre fatores e funções do discurso, além de Chomsky (1965) que realizou estudos sintáticos do discurso a nível de frases e Pittenger (1960) que abordou os aspectos fonológicos dos pacientes. Todos estes autores foram importantes no campo da lingüística e da semiótica.
Sobre a influência de Ruesch no trabalho de Liberman, Aronis (1995) escreve;"Quando pretere a classificação de Fenichel da nomeclatura psicanalítica clássica, baseada nos enfoques histórico-genéticos, pela de Ruesch, baseada nos fenômenos da comunicação, ele define a direção que passará a dar á sua pesquisa" (p.17)
Assim, torna-se necessário construir uma lógica de observação de cada sessão. A Semiótica forneceu a Liberman esta possibilidade quando este escreve que o manejo dos sinais e mensagens do analisando se dá em três campos: o campo sintático, o campo semântico e o campo pragmático.
Pacientes com perturbações na comunicação a nível sintático seriam os histéricos, fóbicos e obsessivos compulsivos. Para Liberman (1970/2009);
Estos analizandos, a los que yo denomino pacientes com perturbaciones a predomínio sintactico, tienen, puesto que se comprometen com lo que dicen, dificultades para realizar y mantener emisiones verbales com um grado óptimo de gramaticalidad.
En estos pacientes notamos interrupciones, câmbios de plan, establecimiento de falas conexiones y, por sobre todas las cosas, lagunas em las construcciones verbales y también en la forma com las emiten. (p.564)
São então, pacientes descritos como apresentando discursos de estilo narrativo, dramático ou de impacto estético. Os pacientes dentro destes estilos de comunicação, são os mais acessíveis á abordagem clássica da psicanálise, pois se submetem melhor a regra fundamental da associação livre.
Os pacientes de comunicação pragmática são descritos pro Liberman como sendo os psicopatas, os de caráter perverso ou ainda os psicóticos, que apresentam uma dificuldade considerada a se submeterem a regra psicanalítica, apresentando ainda interesses distintos ao de se tratar ou podem buscar manipular a relação analítica.
Já os de predomínio semântico são pacientes que apresentam discursos desconectados ao mesmo tempo em que parecem estar associando adequadamente. Tal situação costuma gerar confusão no próprio analista que ao crer que está psicanalisando este paciente, percebe que não está fazendo nada. São pessoas esquizóides, ciclotímicas, psicossomáticos e hipocondríacos.
Em verdade Liberman não chegou a efetivar um conjunto de instrumentos concretos para investigação sistemática. Do ponto de vista metodológico, seu principal legado consistiu em colocar as bases para a operacionalização de dois conceitos centrais em psicanálise; fixações pulsionais e mecanismos de defesa. Coube a Maldavsky, de posse destas bases, construir o método.
Trabalhando junto com Liberman, Maldavsky desenvolveu mais ainda os estudos iniciais que articulavam os estilos comunicativos aos aspectos psíquicos. Maldavsky iniciou os estudos de análise de frases, formalizou a sistematização do ideal do ego como uma expressão de cada erogeneidade e construiu maiores precisões ás descrições de cada estilo.
Aspectos gerais do Método ADL.
O Algoritmo David Liberman (ADL) foi criado e depois desenvolvido para investigar o discurso a partir da perspectiva psicanalítica freudiana e tem como objetivo detectar as pulsões e defesas expressas por meio da linguagem. Em outras palavras, do que fala e como fala um sujeito, é a preocupação do método, assim como é essência da própria psicanálise. Os níveis de linguagem aparecem para análise como palavra, frase e relato.
As pulsões que podemos trabalhar no método são as mesmas que Freud em sua obra inicialmente postulou quanto ao desenvolvimento da libido, porém acrescida de uma a mais; São elas: Pulsão Oral Primária (O1), Pulsão Sádico Oral Secundária (O2), Pulsão Sádico Anal Primária (A1), Pulsão Sádico Anal Secundária (A2), Pulsão Fálico Uretral (F1) e Fálico Genital ( F2).
A que devemos acrecer é chamada de Libido Intra-Somática (LI), que de acordo com Maldavsky (2004); “...ha sido mencionada por Freud (1926) solo de paso, al afirmar que en el primer momento de la vida posnatal los órganos internos (sobre todo corazón y pulmones ) reciben una fuerte sobreinvestidura libidinal.” (p.15).
Fixações da libido nesta fase são os indicativos psíquicos de pacientes psicossomáticos e de dependentes químicos, que trazem em suas dinâmicas psíquicas a dificuldade de associação livre verbal. Ora, a libido intra-somática é um estágio anterior a qualquer construção de palavra na criança, sendo então anterior à própria fase oral.
Quanto aos mecanismos de defesa psíquica, o método distingue algumas defesas que são centrais: a repressão, o desmentido, desestimação da realidade e da instância paterna, desestimação do afeto, a sublimação e a criatividade. Além destas defesas centrais, adiciona outro grupo denominado de defesas complementarias; entre elas a identificação, a projeção, a anulação, negação, dentre outras.
Escreve Maldavsky (2007);
Los instrumentos para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expressa em escenas. Las mismas pueden ser narradas (y en consecuencias las investigamos con la grilla de análisis del relato) o desplegadas al hablar, en la relación con el analista ( y en consecuencia las investigamos con la grilla de análisis de los actos del habla, etc.).En cuanto a las defensas, las consideramos, como Freud (1915/2000), destinos o vicisitudes de las pulsiones. Por ello, la investigacíon de la defensa es posterior a la detección de la fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante en dicha escena permite detectar la defensa. (p.31)
A compreensão dos aspectos abordados pelo ADL, significa considerar que ao invés de pensarmos os sujeitos analisados como estruturas clínicas unitárias fixas (seja meramente neurótico, psicótico ou perverso, para falarmos em termos lacanianos), devemos considerá-los como um conjunto de erotismos e defesas psíquicas que em suas dinâmicas podem apresentar mudanças nestes estados e mesmo apresentar a coexistência de manifestações psíquicas inicialmente diferentes.
Sobre este ponto Maldavsky ( 2004) escreve:
A veces nos encontramos com uma contradiccíon entre dos análisis de las frases: uma misma defensa puede aparecer, em um momento, como normal y em outro, como patógena. También puede ocurrir que uma misma defensa patógena aparezca por momentos como exitosa y em otras ocasiones, como fracasada. En realidad, no se trata necesariamente de un conflicto en el cual debamos optar por una o por otra alternativa. Puede ocurrir que el análisis detecte variaciones en la defensa, que pasa de normal a patógena o viceversa, o variaciones en la defensa patógena, que pasa de exitosa a fracasada o viceversa. (p.33)
Com o exposto até aqui, vamos afirmar que o método ADL se interessa por estudar as cenas, tanto as relatadas por um paciente, por exemplo, como as atuadas na sessão ante o analista e também as posições daquele que fala nestas cenas. O método então pretende detectar as pulsões e defesas em jogo por meio das variações que podem ocorrer em sessões diferentes ou em fragmentos de uma sessão.
Neste sentido é importante frisar que o método pode estudar a relação intersubjetiva proveniente do trabalho entre analista e paciente quando se tratar de clínica. Estudamos não apenas o discurso dos pacientes como também o dos próprios terapeutas através de uma análise de suas intervenções no processo analítico. Neste sentido temos que recorrer á gravação das sessões analíticas, lembrando que deverá ter o consentimento do paciente.
Maldavsky (2004) ressalta que há tipos de análise da erogeneidade assim como instrumentos diferenciais; Quando se trabalha com relações extratransferenciais, o instrumento adequado é a grade de relatos. Quando se trabalha com relações transferenciais o instrumento deve ser a grade de frases. Por fim, se trabalhamos a valoração crítica dos resultados das análises de relatos e frases (redes de palavras), passamos aos programas de computador.
O método prevê as grades e o programa de computador que se constitui em um dicionário computadorizado que por meio de uma rede de palavra as correlaciona com as pulsões e as defesas do ego. Tanto um quanto outros são as ferramentas que permitem analisar o material verbalizado.
O uso do dicionário computadorizado apresenta algumas dificuldades que não passam despercebidas por Maldavsky (2004);
Pese a su evidente utilidad em la investigacíon, el desarrollo de tales diccionarios se topa com diversas dificultades. El primer problema reside en el criterio para agrupar las palavras. La ubicación de las palabras en categorías parece dificultar-se además por el echo de que un mismo término suele tener varias significaciones, a veces contradictorias. Así, pues la creación de un diccionario suele presentar al menos un doble problema: cómo definir las categorías para agrupar las palabras, cómo resolver la cuestión de la polivalencia semántica de cada término. (p.69)
Maldavsky aponta que muitas das dificuldades do dicionário computadorizado acontecem pela ampla possibilidade das palavras terem diferentes valores dependendo do contexto em que se use e ainda a questão de significados a partir de metáforas, ambigüidades e outros recursos retóricos. Neste sentido a própria questão de utilizar o programa computadorizado em sujeitos que falam português e não espanhol ou castelhano, faz com que consideremos a necessidade de tradução e devidas contextualizações das redes de palavras originalmente criadas para a análise.
Com os estudos de relatos de pacientes podemos com o método detectar as fixações pulsionais e investigar as características de certas estruturas psicopatológicas. É o caso das histerias de conversão e demais características histéricas onde predomina a pulsão de tipo F1 ( Fálico genital), em histerias de angústia e fobias onde o predomínio é de F2 ( Fálico uretral ), neurose e caracteriopatias obsessivas, com tendência pulsional Sádico anal secundário ( A2), em caracteriopatias perversas e transgressoras além de paranóicas, temos o erotismo sádico anal primário ( A1), em sujeitos depressivos ou psicóticos maníacos depressivos temos o erotismo oral secundário (O2), esquizóides e esquizofrênicos em erotismo oral primário (O1) e por fim, sujeitos adictos, psicossomáticos e traumatizados remetem ao erotismo da libido intrasomática ( LI).
Os relatos contêm basicamente; um estado inicial de equilíbrio que é alterado por uma primeira transformação que corresponde a um despertar de desejo latente. Logo ocorre uma segunda transformação que é inerente a tentativa de consumação e uma terceira transformação que inclui as conseqüências da terceira tentativa até o estado final. Este trâmite constitui a matriz das seqüências narrativas; ou seja, dois estados, um inicial e outro final e no mínimo três transformações.
Importante frisar que; Como os relatos permitem realizar uma análise dos fenômenos extra-transferenciais, se consegue por meio deles uma compreensão do contexto geral da dinâmica psíquica do sujeito enquanto que, com a análise de frases, há um escopo transferencial enfocando o que o sujeito fala em sessão na relação com o terapeuta. A compreensão é mais específica, podendo também remeter á figura do terapeuta e sua subjetividade.
Neste ponto, o método valoriza a análise por meio das estruturas-frase como expressão do erotismo; Maldavsky escreve (2004,p.99) “... nuestro interese se centra no en las historias narradas por el paciente, sino en las escenas efectivamete desplegadas durante la sesíon, durante el intercambio discursivo.”
Para investigar as cenas especificamente atuadas ao falar, afirmamos que é fundamental e necessário prestar atenção ás estruturas-frase. Aqui, interessa ao pesquisador uma frase que expresse a subjetividade de quem a profere: se objeta, reflexiona, exagera, dramatiza, se interrompe a frase por impaciência, se expressa emoções, etc.
Ao mesmo tempo, é reconhecido que falta uma tradição psicanalítica da análise de frases, o que se configura em certo prejuízo para a sistematização, que agora tenta ser sanada por meio da construção conceitual das estruturas-frases no Método ADL.
A análise das frases torna possível inferir e refinar a investigação da transferência e da contratransferência em uma sessão com um sujeito falante, tornando-se um caminho analítico diferente da análise dos relatos, que como já mencionamos trabalha com inferências extra-transferenciais.
Seja qual for o interesse do pesquisador, a relação transferencial ou a relação extra-transferencial, em ambos os terrenos o método trabalhará com a investigação das fixações pulsionais e os estados psíquicos de defesa. Escreve Maldavsky (2007);
Los instrumentos para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expresa em escenas. Las mismas pueden ser narradas ( y en consecuencia las investigamos con la grilla de análisis del relato) o desplegadas al hablar, en la relación con el analista( y en consecuencia investigamos con la grilla de actos de habla, etc.).
(…) la investigacíon de la defensa es posterior a la detección de la fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante den dicha escena permite detectar la defensa. (p. 31)
Além do estudo das pulsões presentes nos discursos, o ADL se interessa também pela compreensão de como funcionam as defesas psíquicas inconscientes presentes no sujeitos. As defesas são então compreendidas como destinos da pulsão e Maldavsky (2001) enfatiza que não podemos separar a compreensão dos mecanismos de defesa das manifestações pulsionais;
El análisis de la defensa es inseparable de la consideración de la erogeneidad a la cual aquella se enlaza, así que, en el orden global de los procedimientos metodológicos, el examen de las manifestaciones para discernir cuál és la pulsión sexual eficaz es prioritario, y el de la defensa corresponde a un paso ulterior. Entre las defensas, sólo consideramos aquí las dominantes: represión, desmentida, desestimación de la realidad y de la instancia paterna, desestimación del afecto. Todas ellas pueden ser normales (funcionales) o patógenas. (p. 20)
A partir da Psicanálise, o método expressa que entre os tipos de defesa psíquica, a repressão se entrelaça com as pulsões sádico-anal secundária, fálico-uretral e fálico-genital. A desmentida e a desestimação da realidade e da instância paterna se entrelaça com a pulsão oral-primária, sádico oral-secundária e sádico-oral primária e a libido intra-somática está relacionada a uma desestimação de afeto.
Assim, a investigação clínica em psicanálise tem na questão dos mecanismos de defesa um papel central. Maldavsky (2001, p.206) escreve que quando procuramos propor mudanças psíquicas em um paciente, apontamos para as mudanças oriundas das transformações ocorridas com as defesas.
Maldavsky (2001, p.221) salienta que para se analisar as defesas, deve-se escutar no discurso do sujeito manifestações como um aumentativo, um diminutivo, um corte na oração, um grito, um sussurro, um lamento ou uma reprovação. Tais formas de expressão verbal são alguns indicativos dos tipos de defesas psíquicas presentes no sujeito.
Marco Teórico: Psicanálise e Subjetividade.
Para uma adequada compreensão do ADL, torna-se fundamental a leitura sistemática e aprofundada da Psicanálise Freudiana, marco teórico do método que fundamenta todo o arcabouço conceitual utilizado na absorção e aplicação do método em contextos discursivos.
Em Pulsão e seus destinos (1914), Freud estabelece o conceito de pulsão, apresenta as pulsões do ego ou autopreservativas e as pulsões sexuais como manifestações essenciais da vida humana e enfatiza que existem vicissitudes pelas quais as pulsões passam ao longo do desenvolvimento humano. Estas são as defesas psíquicas.
A construção do conceito de pulsão em verdade, começa a ser delineado em Três ensaios para uma teoria da sexualidade (1905). Nesta obra aparece a pulsão sendo compreendida a partir da criança e seu desenvolvimento por fases, de recém nascido a adolescência. Nesta mesma obra já aparecem também conceitos de mecanismos de defesa como a formação reativa e a sublimação.
O Ego e o Id (1923) é uma obra freudiana que traça as diferenças entre consciência e o sentido de inconsciente que organiza o pensamento psicanalítico para a compreensão do homem, assim como estabelece a famosa 2º tópica; Id, Ego e Superego, apresentando a compreensão de que o ego e o superego também são em grande parte inconscientes. Nesta obra, assim como em O inconsciente (1914), é possível percebermos a idéia de que o homem é guiado por manifestações pulsionais que lhe chegam de forma indireta e que não temos acesso senão por meio de derivados mentais, presentes por meio basicamente da linguagem.
A predominância do inconsciente por meio da linguagem já surge em Freud na obra Psicopatologia da vida cotidiana (1901), quando leva em consideração os lapsos de fala, esquecimento de nomes e troca de palavras como tendo em si um significado subjacente ao discurso manifesto consciente e em O chiste e sua relação com o inconsciente (1905) quando estuda o aspecto cômico nos discursos como manifestação do inconsciente.
A preocupação que norteia o método ADL converge diretamente ao estudo do subjetivo a partir da compreensão freudiana.; Kazez (2008) escreve sobre a preocupação em conceituarmos adequadamente a subjetividade:
Comencemos entonces a definir a qué nos referimos cuando hablamos del origen de la subjectividad. Este problema puede ser considerado desde la perspectiva freudiana ao menos desde tres concepciones (Maldavsky, 1997): la de la oposición actividad-pasividad (1915c), la de la identificación primaria (Freud, 1921c) y la de la consciencia inicial (1950a en Projecto de una Psicología para neurólogos), que intentan explicar cómo se constituye la subjetividad. (p.02)
Kazez (2008) cita obras de Freud como Pulsões e seus Destinos e Psicologia das massas e análise do eu para especificar que nestes trabalhos estão estabelecidos, respectivamente, os conceitos de pulsão e a oposição atividade-passividade (os chamados pares de opostos) e também a conceituação da identificação primária, constructos essenciais para a construção da subjetividade.
Escreve Kazez (2008);
Em síntesis, los procesos subjetivos se originan en el empuje pulsional, que en el encuentro con la subjetividad ajena, culmina en el desarrollo de una cualidad en la conciencia de donde derivan los afectos y el universo representacional. Los procesos subjetivos tienen su punto de partida en el enlace entre la libido y las percepciones, y comienzan a desarrollarse con el surgimiento de la conciencia, que solo puede dar-se en el encuentro con semejantes con una postura empática Los afectos representan una particular ligadura del incipiente sujeto con sus propios procesos pulsionales. (p. 132)
A autora também salienta, no mesmo trabalho, que a linguagem não é a única forma de expressão dos processos subjetivos nos sujeitos e que a percepção, a motricidade e a especialidade são também modos de expressão das pulsões. A diferença está no fato de que como a fala aparece na maioria das pessoas; “ (...) permite acceder de um modo más preciso ao estudio de los recursos implementados para el procesamiento pulsional y de la posibilidad individual de ajuste de los imperativos de la realidad y de la instancia critico-valorativa” (p.133)
Sobre a noção de subjetividade, Maldavsky (2007) escreve;
Em efecto, la noción de subjetividad contiene además un segundo rasgo, consistente en el desarrollo de una función de la conciencia originaria, la cualificación. Los contenidos de la conciencia originaria son, para Freud (1950a), las impresiones sensoriales y los afectos, entre los cuales estos segundos son los primordiales y dotan de significatividad a las primeras. (p.17)
Maldavsky (2007) conclui também que a capacidade de sentir os afetos não está presente em todos os sujeitos o que significa dizer que nestes casos há um prejuízo da subjetividade;
La capacidad para sentir los estados afectivos, su matriz, es uma conquista que se logra tempranamente, em la medida em que ciertas disposiciones yoicas se encuentran com um ambiente empático. El afecto es uma forma de cualificar, de hacer concientes los procesos pulsionales y al mismo tiempo, em la medida em que es consecuencia de la empatía de los progenitores, también es un forma de estabelecer un nexo con la vitalidad de los procesos pulsionales de estos: pero existen individuos en los cuales esta conquista psíquica temprana no se desarolló o se arruinó luego, de manera transitoria o más duradera, y en tales ocasiones la subjetividad queda interferida, al menos parcialmente, y en su lugar suelen aparecer alteraciones somáticas. (p.17-18)
Considerações Finais
O método de análise do discurso Algoritmo David Libermann, ADL, apresentou-se para nós como a possibilidade mais eficaz e de maior validade para a pesquisa psicanalítica, principalmente por interpretar os discursos a partir da metapsicologia freudiana, pensando as manifestações pulsionais e seus destinos enquanto mecanismos de defesa psíquica.
A interpretação metapsicológica por meio do ADL pode assim, levar a uma compreensão das dinâmicas psíquicas que se apresentam nas falas dos sujeitos, contribuindo não apenas á clínica psicoterápica e psicanalítica, mas também a outras situações em que o discurso se faça presente, ou seja, em cada campo de constituição do humano e em sua relação com o outro.
Referências Bibliográficas.
ARONIS, N. M. Psicanálise e Comunicação. In: OUTEIRAL , J.O e THOMAZ,T.O (orgs). Psicanálise Brasileira: Brasileiros pensando a Psicanálise. Porto Alegre, Artmed, 1995.
FREUD, S. Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901). Obras Psicológicas Completas. Vol. Rio de Janeiro. Imago, 2000. [CD-ROM]
_______. Três Ensaios sobre uma teoria da sexualidade (1905). Obras Psicológicas Completas. Vol V. Rio de Janeiro. Imago, 2000. [CD-ROM.]
_______. O chiste e sua relação com o inconsciente (1905). Obras Psicológicas Completas.Vol. Rio de Janeiro. Imago, 2000. [CD-ROM]
_______. Pulsões e seus Destinos (1914). Obras Psicológicas Completas.Vol. Rio de Janeiro.Imago,2000. [CD-ROM]
_______. O Inconsciente (1914). Obras Psicológicas Completas.Vol. Rio de Janeiro. Imago, 2000. [ CD-ROM]
_______. O ego e o Id (1923). Obras Psicológicas Completas. Vol. Rio de Janeiro. Imago, 2000. [CD-ROM]
Liberman, D. Lingüística, interacción comunicativa y procesos psicoanalíticos.(1970). Buenos Aires. Galerna-Nueva Visión. 2009.
____________ . Psicoanálisis y Semiótica. Buenos Aires, Paidós. 1975.
Maldavsky, D. Investigaciones em procesos psicoanalíticos. Teoria y método: secuencias narrativas. Buenos Aires. Editora Nueva Vision. 2001.
____________.La investigación psicoanalítica del lenguage. Buenos Aires. Lugar Editorial. 2004.
_____________. La intersubjetividad en la clínica psicoanalítica. Buenos Aires. Lugar Editorial. 2007.
Kazez, R. El Algoritmo David Libermann como método aplicable a la investigación en psicoanalisis. Revista Subjetividad y procesos cognitivos. 5 (04), 130-152. 2003.
Universidad de Ciencias Sociales y Empresariales. (2010). La cita y referencia bibliográfica; Guía basada en las normas APA. UCES. Buenos Aires.

LA PSICODINAMICA DE UNA FAMILIA TOXICA ASISTIERON EN EL PODER JUDICIAL.


LA PSICODINAMICA DE UNA FAMILIA TOXICA ASISTIERON EN EL PODER JUDICIAL.






El Servicio de Psicología de la Sala Penal Especial en la ciudad de Porto Velho, en Rondônia, Brasil, durante el año 2010 trabajó con las demandas de participación de las familias en situaciones de violencia. 
Las demandas han comenzado las denuncias anónimas de abusos contra los niños, niñas y adolescentes, a menudo tienen como padres de familia propiamente dichas. Más tarde, las denuncias fueron seguidas por el procedimiento legal hasta que llegue a petición del fiscal y ordenó por el Juez, una evaluación psicológica de todos los involucrados. En el mes de mayo una de las situaciones llamó más la atención. 
Una de las familias se habían quejado, la madre de M, el padre y cinco hijos, P, 11, 9, 7, 5 y 1 año, y sólo los dos menores eran varones. Vivían en un barrio de la ciudad y con recursos financieros limitados. M era la esposa de la casa y P fue clandestino como un albañil y un vigilante nocturno en una tienda. 
M fue de 30 años pero parecía mucho más. Tenía un historial de hospitalizaciones psiquiátricas y tenía dos meses fueron tomando drogas psicotrópicas que dejó de comer, sin consejo médico. Se quejó de la depresión. 
P manifestaba un carácter cínico, humillando M de manera irónica. Estaño participación ha con alcohol y otras drogas. Tenía 35 años de edad, mejor educada de la M, pero con roupantes agresiva y ella era más abúlica.
Los detalles de la denuncia incluía M y P, los padres que maltrataban a sus hijos. Dijo que dejar el partido y dejó solo en casa, lo que caracteriza el descuido, y los gritos que eran comunes y agresiones físicas por parte de P, principalmente. 

El Servicio de Psicología entonces decidió reunirse toda la familia para iniciar el proceso de evaluación. Al principio los niños se cumplieron, estas consultas se han llevado a cabo principalmente en la escuela. Sólo unas pocas sesiones se realizaron antes de que el Tribunal de Justicia, mientras que en las visitas domiciliarias que no fueron entrevistados en realidad. 
Los contactos con los hijos (sólo el niño de un año no se había cumplido siempre, estar bajo observación.) Demostraron que iban a la escuela con signos en protesta por la falta de higiene y comportamiento apático o agresivo en la escuela, y las dificultades de aprendizaje . 
Los niños mayores de 11 y 9 años, lo que se esperaba una mayor facilidad las verbales han aumentado los síntomas. En sus momentos de verbalización habló de situaciones que indican familiaridad con escenas de violencia. 
Fue un total de 8 (ocho sesiones) para cada niño, además de la aplicación de pruebas psicológicas de la personalidad y cognitivas. El niño de un año fue visto en la guardería pública, en que se encontraba en la tarde y se podía ver en algunos momentos de las visitas domiciliarias. No es aspirado en el pecho, fue insuficiente y fue apática, como la madre. 
Cabe señalar que tanto la escuela y la guardería sólo comenzó a tratar de manipular a los niños a partir de la entrada del Tribunal Especial del Departamento de Psicología del penal, ya que no se había realizado antes de cualquier intervención. En este sentido, es importante tener en cuenta la frecuencia con que las instituciones deben trabajar con sus clientes no lo hará, obligando a la demanda que existe en el Poder Judicial. 
La asistencia de M permite la percepción de una mujer en un estado de fragilidad emocional. Su condición era que apunta hacia un poco de madre cariñosa con sus hijos. Su discurso no se expresa afecto positivo a los niños y especialmente en relación con la hija de 11 años, estaba claro su malestar y la falta de inversión adecuada se espera como una madre. 
Consultado acerca de cómo cuidar a sus hijos, no se hizo ningún esfuerzo para disimular que no cumplía con sus responsabilidades. Curiosamente, no parecía haber ninguna preocupación o remordimiento, estar constantemente en la posición apática ya se ha mencionado. 
Informó episodios depresivos crónicos en los que puedan estar relacionados con manifestaciones psicóticas en particular, debido al embotamiento del afecto. 
Al mismo tiempo, "escapó" de los médicos y la medicina e incluso el juez durante más de una vez no se presentó, lo que obligó al Departamento de Psicología tiene que buscarlo. Su discurso acerca de la hija mayor señaló a una situación de desencadenar un brote cuando estaba embarazada de unos meses de la niña. 
Expresaron que era casi "loco" para quedar embarazada porque no tenía el apoyo de sus padres y fue regañado incluso "perra" por sus hermanos mayores (todos hombres) se quedó embarazada a causa de "camino equivocado" (sin matrimonio). De esto, reconoce que no se siente como cualquier otra cosa y que su vida no tiene sentido. 
Sus otros niños llegaban sin un plan y deseo, como lo efímero de la vida. Cuando pudo hablar de su historia (que era muy difícil) mostró una fuerte representación de la distancia emocional en relación con su madre, mostrando su identificación y la repetición posterior de este lugar y el informe identifica también representa al padre como un hombre "de espesor" que la golpeó y los hermanos a menudo. 
P ya era un hombre de aspecto rugoso. Habló en voz alta y claramente agresiva, mostrando poco de paciencia para los contactos verbales. También fue difícil asistir a las entrevistas, que falta en varias ocasiones y nos obliga a verlo, incluso en sus lugares de trabajo, lo que le molestó aún más. 
Ella dijo que todo parecía absurdo, no estaría de acuerdo en que se trata "de esta manera"  de que iba a ser considerado un criminal. El tono agresivo fue una constante que se expresa en prácticamente todas las cuestiones relacionadas con su familia y los viajes al Tribunal de Menores para su evaluación. En unos momentos, sin embargo, su tono se hizo más suave y fue capaz de hablar sin agresividad. 
Hubo un total de cinco sesiones siguientes M y 5 sesiones de otros con P. En dos ocasiones se optó por realizar las sesiones con los encuentros de pareja junto. Nestes manifestación de apatía agresiva M y P se mantuvo en la misma forma que las sesiones individuales. P negó cualquier situación de violencia que involucra a los niños o la pareja. 
Al mismo tiempo se quejó de que su vida era "una mierda" y que "nada salió bien" , señalando sus quejas entre los momentos de ira y algunos otros que bordeaba una cierta resignación. Su frustración era evidente. La defensa fundamental és la desmentida con defensas complementarias de negación y projeción de sus afectos agresivos.
Al preguntársele sobre su relación con la bebida, había dificultad para hablar, no se manifiesta como dependiente en ningún momento. También ha ninguna relación entre el consumo y el comportamiento agresivo, incluso diciendo que una cosa no tenía nada que ver entre sí. 
Sus discursos eran acerca de los niños de una cierta indiferencia por un lado y de incomodidad para el otro. Se quejó de tener que escuchar al bebé llorando toda la noche y tener que tomar un baño o ir a la escuela y, a menudo salía la noche a beber porque no puede llevar a su rutina en casa. Negó que él golpeó a los niños. 
En cuanto a su relación matrimonial, prácticamente se negó a hablar sobre el tema y sólo la quinta reunión se manifiesta un poco al decir que M es "enfermo" y que "no le interesa nada", aludiendo a los sentimientos de depresión y desinterés por consiguiente sexual. 
Las visitas posteriores a los niños se apuntan a la posibilidad cada vez más probable que P. abusó de ella física y verbalmente, mientras que M. niños abandonados. La ausencia de M. apareció incluso en las palabras de los niños informaron las situaciones más cotidianas como bañarse, sentido como algo prácticamente inexistente. 
El Servicio de Psicología también señaló que sólo P saya en la noche y M, no, pero se refugió en un rincón de la casa y "olvidar" a sus hijos. Su apatía era tal que no levantó para ver qué más pequeños lloraban. 
Para nosotros estaba claro qué parte del discurso de M y P era incompatible y, a menudo sólo catártica. También era posible pensar que la violencia conyugal con experiencia se caracterizó por una relación sadomasoquista que reveló la co-dependencia entre M y P. 
P. se hizo responsable de los delitos de malos tratos y son remitidos a evaluación del tratamiento contra el alcohol y otras drogas. M. fue remitido a la psicoterapia y la atención psiquiátrica. Los niños fueron entregados a una tía, la hermana de M, que vive en una ciudad cercana, hasta que los tribunales definan quién debe ser. Una cosa, sin embargo, parece cierta; Estos padres no reconocían sus hijos hace mucho tiempo. Serían capaces de tener deseo por ellos un día? Quedamos con la pregunta.










            Zeno Germano . Doctorando Psicologia UCES Buenos Aires.

A Sustentação do Lugar do Analista. (Considerações sobre a Clínica Psicanalítica).




A Sustentação do Lugar do Analista. (Considerações sobre a Clínica Psicanalítica).



Resumo: Este artigo faz uma exposição da compreensão do conceito de Lugar do Analista segundo Juan David Nasio, contextualizando-o a partir do desenvolvimento histórico da Psicanálise no que diz respeito á postura do analista dentro do processo de análise. Em seqüência busca exemplificar por meio de fragmentos de sessão a experiência do analista de sustentação deste lugar, essência mesmo da clínica e da relação analítica.
Palavras-Chaves: Psicanálise.Clínica. Lugar do analista.


Desde os primeiros momentos em que Freud passa a escrever de forma sistemática sobre a questão da formação psicanalítica, o que nos remete aos famosos ‘’Artigos sobre a Técnica “de 1912”, a busca por se alcançar os princípios básicos postulados pelo pai da Psicanálise como necessários para a concretização adequada da intervenção psicanalítica foi se tornando algo como que “intocável”. Assim permaneceu durante bom tempo, provavelmente apenas vindo a sofrer seus primeiros grandes questionamentos a partir de Jacques Lacan em fins dos anos 40.
O desenvolvimento das Sociedades Psicanalíticas contribuiu efetivamente para a implantação definitiva dos padrões de formação do analista e gradativamente foi sendo adicionada a modelos universitários de formação quando a Psicanálise passou a fazer parte também de currículos acadêmicos.
Importante então ressaltar que a inclusão da Psicanálise no meio acadêmico foi se dando também em meio ao surgimento de outras técnicas de psicoterapia que traziam variações importantes tanto técnicas quanto teóricas, inclusive no tocante á formação do terapeuta. Algumas destas variações ainda estavam diretamente ligadas aos princípios freudianos, surgindo então daí as psicoterapias psicanalíticas ou de orientação analítica.
Tais variações, no entanto, na busca pela consolidação da formação, também acabaram por cair em um engessamento da formação, representada principalmente sobre como o analista conduz o tratamento psicanalítico. A importante junção de procedimentos técnicos e éticos acabou por reduzir-se a esteriótipos da figura do analista e seus comportamentos dentro e fora do consultório.
Parece-nos assim, que muito deste esteriótipo está relacionado a figura do analista como um profissional que quase nada fala no trabalho analítico, que somente escuta e desvia efetivamente qualquer pergunta que lhe seja dirigida pelo analisando como manifestação de resistência deste.
Tal esteriótipo pode ser facilmente encontrado em muitos psicoterapeutas que defendem a posição por estarem dando seqüência ao que foi devidamente postulado por Freud. Logo, o analista “mudo”, onde a resistência é basicamente do analisando, torna-se o padrão seguido rigidamente.
Não estamos diante de um equívoco? Nazio (1999,p.07) aponta; “A caricatura do analista eternamente silencioso, sugerindo que a análise se desenrola ao sabor da fala, é uma visão incorreta. É uma caricatura errônea do nosso trabalho de analista e lhe é nociva.

Aspectos da técnica psicanalítica.

Evidentemente, a técnica psicanalítica que enfoca o discurso do outro a partir do inconsciente exige de quem a pratica, uma posição que deverá privilegiar a escuta em detrimento da fala. E a quem cabe falar? Ao analisando, sem dúvida. Mas não nos parece claro que ao analista caiba escutar.
Voltando a escuta, nos remetemos imediatamente a técnica fundamental da livre associação por parte do analisando e da atenção flutuante por parte do analista. A solidificação destas duas vias mestras de atuação na clinica constroem a compreensão da “ausência” de fala do analista. A ele cabe escutar com atenção flutuante a livre associação do analisando.
Szczupak (1991), clarifica a relação que o analista deve ter com a fala do analisando, fala esta em associação livre, pela via da interpretação. Diz a autora;

A associação livre é que dá margem a que o analista perceba o material inconsciente a que ela inevitavelmente faz alusão. Se em tudo o que o paciente fala o material inconsciente se apresenta de forma camuflada, o disfarce encobre e ao mesmo tempo denuncia, faz alusão a um outro sentido que , com o tempo, começa a se delinear. O analista, através de sua interpretação, aponta para este material com suas próprias palavras. Se houver alguma semelhança, o paciente a descobre.( SZCZUPAK, 1991,p. 19 )

Entendemos assim, que a associação livre da fala do analisando, imbuída de inconsciente, precisa ser escutada para que o analista possa ir construindo a interpretação. Mas porque esta escuta estaria revestida de silêncio? Precisaremos pensar outra coisa.
É pela via da transferência, motor do tratamento psicanalítico, que poderemos ampliar a compreensão de como é a escuta analítica. Tyson e Eizirik (2005) escrevem sobre a conceituação do termo em Psicanálise;

Muita coisa foi escrita em diversas línguas sobre transferência. Talvez em um dos artigos mais proveitosos, Brian Bird (1972) revisa as idéias originais desenvolvidas por Freud sobre transferência e refere-se a elas como um fenômeno universal e a parte mais difícil do tratamento. Concordamos com Bird e muitos outros autores que vêem a transferência, em um significado mais amplo, como ubíqua, no sentido de que nossa experiência de relacionamentos passados afeta nossas relações presentes, embora de maneiras complexas das quais não temos consciência. Entretanto, a transferência pode ser convenientemente definida em um sentido mais restrito;nesta visão a transferência do paciente aparece no tratamento na medida em que a relação paciente-terapeuta é afetada inconscientemente por experiências revistas e remodeladas de relacionamentos passados e desenvolve-se além dos modelos costumeiros de relação e sentimento interpessoal. ( TYSON e EIZIRIK, 2005,p.287)

Enfatizando a importância da relação transferencial na Psicanálise, Szczupak (1991) ressalta;



A relação transferencial é tão básica para este tipo de trabalho, que Freud adverte ser recomendável que o analista só faça qualquer comunicação ( sobre o material inconsciente) quando ela já estiver estabelecida. Haverá uma ligação com a analista, então, suficiente para suportar o contato com esse material que foi mantido afastado da consciência. ( SZCZUPAK, 1991,p.27 )



Conforme Freud (1912/1969); “Enquanto as comunicações e idéias do paciente fluírem sem qualquer obstrução, o tema da transferência não deve ser aflorado”. Deve-se esperar até que a transferência tenha se tornado uma resistência” (p.182)
Fica claro então que a transferência precisa ser estabelecida na relação analítica e para que se estabeleça é fundamental que o analista se abstenha de falar, deixando tal tarefa para o analisando. Mas o que deve ser evitado, até que a transferência funde seu lugar é a comunicação sobre o material reprimido. Não se ampliou a abstenção para a fala total do analista. Será que analistas “mudos” na clinica podem estar confundindo o que não deve ser comunicado ainda ao analisando com um nada falar?
Ao mesmo tempo não devemos esquecer que a institucionalização da Psicanálise estabeleceu padrões que acabaram por tornarem-se engessamentos ao longo de sua história desde a fundação da primeira Sociedade Psicanalítica em 1911. Moscovitz (1991) nos lembra; “Chegou-se a colocar que o analista deveria adotar uma presença neutra na sessão, com cores não muito vivas, sendo ideal o terno e a gravata discretos. Tudo isso para, entre outras coisas, não erotizar a relação, nem se fazer de vedete.” (p.103)
Podemos pensar que “regras” como estas também foram então sendo construídas ao longo da formação também no sentido de que o silêncio das palavras do analista imperasse em prol da transferência e da suposta neutralidade. Moscovitz (1991) mesmo, se preocupa em derrubar engessamentos quando afirma que na verdade, o analista tem que se contentar em respeitar as pessoas que recebe vestindo-se como deseja.


O Silêncio-em-si e o Lugar do analista.


É com Juan David Nazio na obra “Como trabalha um psicanalista” de 1999, que encontramos uma construção adequada do que é o silencio do analista. Para tanto se faz mister pensar a contratransferência.
De acordo com Eizirik e Lewkowicz (2005), na compreensão clássica, a contratransferência se restringe á reação inconsciente do analista á transferência do paciente e é considerada decorrente dos conflitos neuróticos do analista.
Freud (1910/1969) que por sinal pouco enfatizou a contratransferência em sua obra destacou basicamente os aspectos negativos que ela exerce sobre o processo de tratamento psicanalítico. Diz o pai da Psicanálise introduzindo o termo pela primeira vez; “As outras inovações na técnica relacionam-se com o próprio médico. Tornamo-nos cientes da contratransferência que nele surge como resultado da influência do pacientes sobre seus sentimentos inconscientes.” (p.130 )
Assim percebemos que para Freud a contratransferência é um obstáculo á análise que precisa ser superado pelo analista. Outros autores posteriormente á Freud enfatizaram outros aspectos do fenômeno contratransferencial, ampliando-lhe o conceito. Eizrick e Lewkowicz (2005) apontam autores que se preocuparam em, considerando a contratransferência um obstáculo, não reprimi-la durante o processo e até mesmo a usá-la para favorecer o tratamento.
A ampliação do conceito de contratransferência passou a ser denominada como Conceito Totalistíco em oposição ao conceito clássico. Eizirik e Lewkowicz (2005) ressaltam;



Esse conceito considera a contratransferência como um fenômeno normal no processo terapêutico. Nesse sentido, ela contém elementos da realidade da relação e pode incluir aspectos neuróticos do analista, abrangendo suas reações conscientes e inconscientes e podendo ser utilizada como instrumento de compreensão do paciente.De acordo com esta visão, todos os sentimentos e atitudes do analista em relação ao paciente são considerados contratransferência. (  EIZIRIK e LEWKOWICZ, 2005,p.303)


Transpassado por Lacan, Nasio (1999) enfatiza a diferença de compreensão do conceito contratransferência entre os analistas anglo-saxões e os orientados lacanianamente;



Não consideramos a contratransferência no eixo da relação analista-analisando, mas segundo outro, muito mais problemático: a relação do analista com o seu lugar(...) Assim, definimos a contratransferência como o conjunto das produções imaginárias do analista que o impedem de ocupar o seu lugar de objeto .Lacan teria dito;desejo do analista.(NASIO, 1999, p.121)


O autor ainda busca esclarecer o que é este desejo do analista; o Lugar do analista. Escreve Nasio (1999);“Desejo do analista -insisto sempre - deve ser compreendido não no sentido de um desejo experimentado pelo psicanalista, mas no sentido de um lugar, um local, uma região, um ponto singular e impessoal no seio da estrutura da relação analítica.” (p.121)
O analista, de acordo com Nazio, deve ocupar um lugar onde terá que lidar com a transferência na relação analítica, tendo mesmo que produzi-la. Quando não ocupa este lugar, está no fenômeno contratransferencial e ai, usando as palavras de Nazio (1991), não consegue operar, ou seja, não interpreta, não percebe e não causa o inconsciente.
A partir da impossibilidade de ocupar o Lugar de Analista, Nazio, com Lacan, propõe que, ao analista caberá, para não deixar de construir o inconsciente na relação analítica, fazer “Silencio em si”. Nasio (1999) escreve;



O analista só está verdadeiramente disponível para a escuta, isto é, o analista só consegue verdadeiramente transformar os derivados inconscientes do seu paciente em uma interpretação ou em uma percepção alucinada com a condição de deixar, abandonar, separar-se do seu Eu, de fazer calar em si as ambigüidades, os enganos e erros do discurso intermediário, para abrir-se enfim á cadeia das palavras verdadeiras (...) É preciso pois, abandonar o EU.(NASIO, 1999,p.126)


E o que significa então este abandonar o EU? Nasio completa a questão;



Fazer silêncio em si significa que espacialmente estamos fora de nós, exilados do Eu, ou, para retomar o belo título de um livro recente escrito por uma amiga, somos estranhos a nós mesmos. Somos estranhos a nós mesmos sem com isso estarmos com o outro, meu semelhante, isto é, meu analisando, nem com o Outro nem com o grande Outro, garantia da verdade. Não estamos nem sós nem com os outros. Estamos sem mais ninguém. E por estarmos sem mais ninguém, somos objetos. Sou onde não há EU. Sou onde não penso. Sou onde não há outro, nem pequeno nem grande Outro. Isso espacialmente. Temporalmente, não temos nenhuma consciência da duração. O lugar do analista, o fazer silêncio-em-si, só o ocupamos na brevidade fulgurante de um clarão. (NASIO, 1999,p.126-127)


Aqui podemos pensar o que marca a relação analítica. Para produzir transferência o analista não deve existir plenamente, deve abandonar-se e permitir que o desejo inconsciente do analisando venha á tona. Não falando de “suas coisas” o analista possibilita que as “coisas” do analisando aconteçam na sessão. O analista deve funcionar como um espelho, como escreveu Freud nas “Recomendações aos que exercem a Psicanálise” (1912)
Segurar esta posição é a essência mesma da analise. Segurar a relação transferencial após produzi-la. Não estamos diante de uma das principais diferenças da clinica psicanalítica em relação ás outras formas de psicoterapia? Lembremos do quanto a transferência é fundamental para a Psicanálise. Neste ponto torna-se importante trazer á tona o conceito psicanalítico de neutralidade.
A neutralidade, outrora considerada ponto indiscutível na técnica psicanalítica, atualmente é compreendida de forma bem diferente da concepção freudiana original que a princípio se referia á questão como abstinência.

Freud (1919/1969) assim fez referencia á abstinência;



Por muito cruel que isso possa parecer, devemos fazer o possível para que o sofrimento do doente não desapareça prematuramente de modo acentuado. Quando este sofrimento se atenuou, porque os sintomas se desagregaram e perderam o seu valor, somos obrigados a recriá-lo noutro ponto sob a forma de uma privação penosa (...) contudo não é bom deixar que se tornem excessivas. (FREUD, 1919/1969, p.119-211)



Percebe-se neste trecho de Freud, que o pai da psicanálise enfatizava a abstinência aplicada ao analista. Ao considerar o problema da abstinência não podemos deixar de considerar, que atualmente não se padroniza a regra para todos os pacientes, devendo-se analisar a individualidade de cada um. Escreve Pechansky (2005);





A discussão sobre se a regra se aplica ao terapeuta ou ao paciente merece alguma reflexão. No que se refere ao paciente, será prudente a sua aplicação em circunstancias muito especiais, por exemplo, em atuações repetitivas que podem colocar em risco a própria vida do paciente (...) não se pode exigir que o paciente se abstenha de certas gratificações com a finalidade de criar um clima de frustrações que venham a favorecer, na transferência, a análise de seus conflitos. (PECHANSKY, 2005,p.240)


A questão da abstinência não deve aparecer como uma imposição na clinica psicanalítica atual. O que se evidencia hoje é o princípio da flexibilidade, desde que não se violem os princípios básicos do que constitui um trabalho psicanalítico.



Sustentando o Lugar na relação analítica.



É no exercício cotidiano da clínica psicanalítica que somos chamados ao desafio de poder manter o lugar do analista. É na relação analítica com o paciente que vivenciamos a experiência do inconsciente do outro.
Minha clinica é um espaço onde busco manter a escuta do inconsciente dos pacientes ( O Édipo, a forma de lidar com a castração, a sexualidade infantil) e onde entendo que se constrói o Silêncio-em-si que Nazio nos propõe. Em outras palavras, o que cala em mim não é a voz, apesar de que, como é de se esperar em uma abordagem psicanalítica, eu provavelmente fale bem menos do que psicoterapeutas de técnicas não psicanalíticas.
V.40 anos, é minha paciente a um ano. Possui um histórico de relacionamentos amorosos fracassados que foram “abortados” como ela diz, por ela própria,”antes que ficasse mais serio e eu sofresse mais”(sic).Após o terceiro rompimento começa uma psicoterapia não analítica que dura seis meses e que é também abortada por V. Me procura após a quinta separação.
Um fragmento de sessão quando contávamos já sete meses de trabalho, ilustra bem o desafio de sustentação do lugar de analista.
- “Hoje não quero falar de mim. Diz V. Vamos falar de você. Estou vindo aqui já há um tempão e você ainda não falou nada sobre você mesmo.”
Esta fala é muito comum na clinica. Costuma incomodar os iniciantes e ás vezes até quem já tem um tempo de consultório. Também pude perceber meu próprio incomodo, entretanto procurei não lidar com ela como se estivesse fugindo, usando falas como “Estamos aqui pra falar de você” muito menos dei a V. o que ela queria, ou seja, não falei de mim. Pelo menos não como a paciente pode achar que queria.
Neste ponto inicio em silencio até que V. insiste;

- “ Me fale de você. Quantos anos tem?”

- “36”, respondo.

- “ Já percebi que você é casado. Tem filhos?”

- “Sim”
Seguem mais duas perguntas semelhantes , onde respondo de forma calma e monossilábica até que V. fica em silencio.
Aqui penso importante esclarecer. Respondo ás perguntas de V. sem responder. Imaginariamente, ela pode fantasiar que entraria em uma conversa habitual comigo, que eu ampliaria minhas respostas a detalhes de mim enquanto pessoa. Seu silencio após as perguntas é prova de sua frustração e ao mesmo tempo de seu entendimento do que estava tentando fazer. Entendo assim que não preciso necessariamente recorrer ao clássico chavão típico de muitos psicoterapeutas; É importante pra você?
Então intervenho: ” Parece que você ficou incomodada.”

- “ É.De repente não sei o que fazer...”

- “ Neste momento é tão difícil falar de suas coisas que você só conseguiu querer falar de mim”.Digo a V.

- “ É que o outro psicólogo que tive falava mais. Falava o que eu tinha de fazer. Voce não diz o que eu tenho de fazer.”

- “ Eu não acho que você queira que eu diga o que você deve fazer.”

- Depois de uns minutos de silencio, V. fala: “ O outro psicólogo falava...”

- “Então você deixou de ir.”Disse-lhe.
V. a partir daí, começou a associar como se sentia com o outro psicólogo e como se sente comigo. Percebe sua tentativa de sabotar a sessão e faz novas pontes entre o que sente agora e seus sentimentos quanto aos homens com quem se relacionou.
Penso importante salientar que senti incômodo com as falas da paciente. Parece que sempre esperamos que o paciente faça “tudo como tem que ser feito”, que associe sem maiores transgressões ao setting e que seja assim, “um bom paciente”.
Evidentemente a vivência da clinica, aliada ao nosso trabalho de análise pessoal nos possibilita cada vez maior equilíbrio diante de sentimentos como este, nos dando condições de manter nosso lugar na relação analítica e dar seguimento ao processo de análise dos pacientes.
Remeto-me a Lacan, que enfatizou; “Nunca se disse que o analista não deve ter sentimentos em relação ao seu paciente. Mas deve saber não apenas não ceder a eles, colocá-los no seu devido lugar, mas servir-se deles adequadamente na sua técnica.” (LACAN, 1979, p. 43)
Acredito que não precisamos fugir das perguntas que nossos pacientes nos fazem e sim que podemos responder desde que não coloquemos nossos desejos enquanto pessoas na cena analítica. Sendo mais pontual: Desde que não coloquemos nosso ego em cena.
Outro fragmento ilustrativo é o de M.32 anos, homem com timidez patológica e que foi meu paciente durante um ano e meio e que eu havia encontrado na padaria um dia antes da sessão relatada. No momento do encontro eu o cumprimentei educadamente como sempre faço quando encontro um paciente em situações fora da sessão. No dia da sessão ele fala;

- “Você sempre vai aquela padaria?”

- “Ás vezes.”, digo.

- “Eu já te vi por lá outras vezes. Você deve morar perto de lá não é?”

- “Sim”

- “Dia desses te vi de bermuda e sandália. Estranho ver meu psicólogo como uma pessoa normal”. (Fala expressando o rubor característico de sua excessiva timidez.)
Neste ponto eu já havia percebido meu incomodo diante da fala do paciente e permaneci em silencio, esperando para ver como ele desenvolveria seu discurso. Curiosamente naquela sessão, ele trabalhou normalmente e não escutei nada mais que pudesse apontar uma resistência do paciente, nem minha.
A questão voltou a se apresentar oito sessões depois. Nas anteriores já havia percebido uma mudança no ritmo do discurso de M. Seu estilo de falar vinha se mostrando mais cadenciado, quase deprimido. Já não trazia muitos conteúdos como antes, mesmo assim nada lhe apontei pois não conseguia “hipotetizar” uma compreensão de sua atual dinâmica.
Lembrei-me entao que eu o tinha visto em dois eventos sociais nas duas semanas seguintes ao nosso “encontro” na padaria. Nas duas ocasiões ele veio até mim e me cumprimentou, mas não havia trazido nada sobre isto nas sessões. Passei a ligar que o ritmo das sessões começou a mudar dias depois deste episódio que eu inicialmente ignorei, pois ele nada havia falado.
Então, na nona sessão após a citada inicialmente, M.fala das duas outras situações em que me cumprimentou;

- “Me senti estranho nas duas ocasiões em que lhe vi a noite.” Diz M.

Permaneci em silencio. Então ele continuou mostrando-se agitado;

- “Achei que você podia ter me dado maior atenção. Achei que você meio que me ignorou, foi monossilábico. Não gostei.”
Naquele momento minha mente já começava a ser contaminada com um previsível incômodo e a tendência era ou permanecer em silêncio ou solicitar que ele falasse mais sobre seus sentimentos, mas percebi que esta última alternativa era minha defesa naquele momento.
Após um tempo em que ambos ficamos em um silencio que não sei hoje precisar, interpretei-lhe fazendo uma ligação com sentimentos homo eróticos que ele havia verbalizado ainda nas primeiras sessões e que sua hostilidade latente acabou por mudar a forma como vinha conduzindo suas associações e conseqüentemente me punindo.
As questões homo eróticas que foram trazidas no começo só ganharam sentido pra mim a partir daquele instante. Antes, além de não aparecerem muito nas associações de M, também eu não me “lembrava” delas porque me trouxeram sentimentos de rejeição quando ele as verbalizou inicialmente. Foi preciso que eu as mantivesse equilibradas em mim para que o incômodo que as associações do paciente me suscitaram não afetasse a relação analítica e minha escuta do seu inconsciente.


Considerações finais.

O exemplo de pacientes tem por simples objetivo compartilhar as variações intersubjetivas que a psicoterapia psicanalítica pode nos oferecer. A intenção básica é que reflitamos sobre a importância de que uma apurada escuta do inconsciente na clínica psicanalítica é antes de tudo, uma escuta do singular e um singular que inclui o próprio analista e não apenas o paciente.
Assim, não se prender a compreensões engessadas, onde práticas discursivas (muitas vezes acadêmicas) impõem “modelos” de postura do analista que não necessariamente retratam o que é analisar no século XXI parece ser um dos grandes desafios para a Psicanálise nos dias atuais.
Pensar que o Lugar de sustentação do que é ser analista passa alhures de qualquer “caricatura hollywoodiana” é avançar na perpetuação de uma prática de questionamento do humano que há mais de um século nos ensina que não somos donos em nossa própria casa.





                                                 Referências Bibliográficas.



Eizirik, C.L. e Lewkowisz, S. (2005). Contratransferência. In: Eizirik, C.L Aguiar,R.W. e Schestatsky,S.S. Psicoterapia de orientação analítica: Fundamentos teóricos e clínicos. Artmed. Porto Alegre.

Freud, S. (1912/1969). Artigos sobre a técnica. In: Obras Psicológicas Completas. Vol. 12. Imago. Rio de Janeiro.

Freud, S. (1919/1969).

Szczupac, S. ( 1991). O xadrez psicanalítico; início e final de análise em Freud e Lacan. Relume Dumará. Rio de Janeiro.

Lacan, J. (1979). O Seminário 2: O eu na teoria de Freud e na técnica psicanalítica. Jorge Zahar. Rio de Janeiro.

Moscovitz, J.J e Grancher, P. (1991). Pra que serve a análise? Conversas com um psicanalista. Jorge Zahar. Rio de Janeiro

Nasio, J.D. (1999). Como trabalha um psicanalista? Jorge Zahar. Rio de Janeiro.

Pechansky, I. (2005). Setting psicoterápico: neutralidade, abstinência e anonimato. In: Eizirik, C.L, Aguiar,R.W. e Schestatsky,S.S. Psicoterapia de orientação analítica: Fundamentos teóricos e clínicos. Artmed. Porto Alegre.

Tyson, R e Eizirik, C.L. (2005). Transferência. In; Eizirik, C.L, Aguiar,R.W. e Schestatsky,S.S. Psicoterapia de orientação analítica: Fundamentos teóricos e clínicos. Artmed. Porto Alegre.





* O autor é Psicólogo CRP01/7798. Psicoterapeuta Psicanalítico. zeno.neto@ulbra.edu.br